Mulheres na Ciência

Ao som de Maria, Maria, música famosa de Milton Nascimento, a pesquisadora Giovanna Machado finalizou seu discurso no encerramento da turma de janeiro deste ano do programa Futuras Cientistas, no Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), localizado na Cidade Universitária.
“É preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre…” é o recado que Giovanna batalha para fazer chegar ao maior número de meninas e mulheres possível, através do Programa Futuras Cientistas. A ideia é aumentar o número de mulheres que gostem de ciência, aproximando-as de áreas que ainda hoje são consideradas de domínio masculino, além de despertar o senso crítico a respeito da equidade de gênero.
Este ano, o Programa formou 12 estudantes e 3 professoras, todas mulheres e oriundas da rede pública de ensino. Durante um mês, as meninas têm aulas com especialistas em laboratórios de microscopia eletrônica, nanotecnologia, biotecnologia, biofábrica e circuitos integrados. Além do Cetene, o Futuras Cientistas conta com apoio do Consulado Americano e das Secretarias de Educação e da Mulher do Governo do Estado de Pernambuco.
Dentro da programação, as alunas também presenciam uma palestra semanal sobre equidade de gênero. “Hoje, entendo que o programa tem o foco na ciência, mas que este foco só será alcançado quando deixarmos de nos alienar à discriminação que ocorre ao nosso redor, porque mesmo que eu não me sinta discriminada, e isto não é verdade, nós temos um compromisso como cidadãos com a equidade de gênero, cor e raça”, enfatiza Giovanna.
Mariana Vasconcelos, 30 anos, professora da Escola de Referência Nóbrega, participou da última turma do Programa. “Iniciei o curso com a expectativa de conhecer laboratórios fantásticos, adquirir novos conhecimentos e ter acesso a tecnologias nunca vivenciadas durante toda minha graduação e especialização. Foi aí que, já na abertura, notei que o programa não se limitava a mostrar o mundo científico a meninas, ele também tratava de questões relacionadas a gênero. Nesse momento meus olhos brilharam: que fantástico!”, relatou Mariana.
Para Myrian Batista, também aluna da última turma, a experiência vivenciada foi muito decisiva na sua escolha profissional, ela vai começar o 3º ano do ensino médio na Escola de Referência Álvaro Lins, e decidiu por seguir a carreira profissional como engenheira. “Eu acho que vai ser difícil de encarar, porque é um espaço diferente, muito voltado para o sexo masculino. Tenho uma batalha pela frente e tenho que encarar. Até na minha própria escola já recebi comentários de um professor, quando descobriu que eu iria fazer engenharia civil, ‘você é muito mocinha para lidar com peões, você não conseguirá’, eu disse que isso não existia, que tem que ter espaço no mercado para as mulheres também”, desabafa Myrian.
Para a diretora da mulher do Senge-PE Eloisa Moraes, o Futuras Cientistas é digno de admiração e traz esperança de renovação da engenharia, “o Programa desperta nas jovens mulheres o desejo de engenhar. Estamos mostrando a capacidade feminina de abrir novos horizontes com competência e dedicação”, afirma Eloisa.