A retirada das fábricas da Ford do país precisa servir como um aprendizado: ou alcançamos estabilidade política e econômica ou retrocederemos ao início do século passado
A Ford anunciou, no dia 11/01/2021, o fim da produção de veículos no Brasil e o fechamento das suas três fábricas, em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE). A empresa atua no país desde 1919 e tal decisão tem como consequência, além de algum retrocesso do desenvolvimento tecnológico e industrial do país, a perda de milhares de empregos diretos.
Os motivos apresentados foram diversos e alguns até legítimos: alto Custo Brasil, que, de acordo com os economistas, é a alta e complexa carga tributária e os custos de logística; a alta do dólar que influencia diretamente nos custos de insumos comprados; a reestruturação mundial da empresa para reduzir custos e aumentar a lucratividade e um ambiente econômico desfavorável agravado pela pandemia do Covid-19.
Essa decisão da Ford foi recebida com surpresa. A rapidez e a celeridade na forma como divulgou a decisão demonstraram insensibilidade e falta de compromisso com o país e milhares de trabalhadores.
Não é verdade que a Ford não era favorecida pela política econômica brasileira. A empresa sempre teve incentivos fiscais dos governos federal, estaduais e municipais, além de acesso a financiamentos diversos, como do BNDES. Nos últimos anos, a empresa teve acesso a 3,5 bilhões em linhas de financiamento do Banco.
As reformas da previdência e trabalhistas, apresentadas como demandas do setor privado, também foram aprovadas e estão vigorando. Tais medidas que prejudicam em demasia os trabalhadores serviriam para estabilizar a economia nacional, o que não aconteceu. Até agora, só perderam os trabalhadores com o aumento do desemprego, a economia declinou e as empresas não param de fechar. E o investimento estrangeiro, que seria a solução, foi embora.
A realidade é que a empresa passa por uma grande crise mundial e há uma necessidade urgente de se reformular. A pergunta que nos cabe é por que não continuar no Brasil? Por que eles escolheram a Argentina e o Uruguai, ao invés de um país como o Brasil que tem um mercado consumidor mais atraente? Não precisaremos entrar em detalhes a respeito da política econômica dos países. A resposta é simples: INCERTEZA. O Brasil hoje, além da quantidade de impostos e da bagunça legislativa, representa um mar de incerteza jurídica, econômica e política.
O presidente afirmou, há poucos dias, que o país estava quebrado e que ele não conseguia fazer nada. Mas não é a crise atual que assusta os investidores mundiais, é a falta de perspectiva no futuro do país. No vai e vem de decisões, na instabilidade política permanente e num presidente despreparado, atrapalhado e instável.
O mundo não confia no Brasil. País “governado” por um negacionista, antidemocrático e mentiroso. A Ford parece que também não confia. Bolsonaro pode não ser o único culpado, mas a instabilidade de seu governo pesou e poderá ser decisivo para outras empresas que estejam avaliando sua permanência em nosso território ou que estejam interessadas em investir aqui.
A saída da Ford é simbólica e representa o agravamento do processo de desindustrialização do país, com grande desmobilização de cadeias produtivas.
Torcemos e lutamos para que a saída da Ford do país seja singular e não sirva de exemplo para outras empresas. O que desejamos mesmo é um governo responsável, que trabalhe pela soberania nacional e que não afunde ainda mais nosso país nesse processo de desindustrialização e subserviência. Nossa luta é pela soberania, contra o desemprego e esse governo não nos representa.
Sindicato dos Engenheiros no Estado de Pernambuco