“Estávamos no comecinho dos anos 90, durante o Processo Constituinte do Sistema Confea/Crea, na cidade de Gramado (RS).
Já nessa época, a turma de arquitetura ameaçava sair do Sistema e seguir caminho próprio. Fato que só veio acontecer em 2010, um bocado de anos depois. Mas, não é isso que importa… O que importa é aquele dia, lá na cidade das flores.
No meio de toda discussão se arquitetura saía ou não do Confea/Crea, tínhamos outro assunto para debater: o grupo da Oceanografia solicitava ingressar no Sistema. E tinha, claro, o total apoio dos engenheiros de pesca, no momento, representados por mim e pelo amigo Leonardo Sales, que era o vice-presidente da Federação Nacional dos Engenheiros de Pesca.
Em plenária, os colegas oceanógrafos solicitaram passar a fazer parte do Sistema e, sendo contra àquela iniciativa, a presidenta da Federação dos Arquitetos foi à tribuna. Durante seu caloroso discurso, entre várias “justificativas”, como a quantidade enorme de engenharias, ela soltou “se permitirmos o ingresso da Oceanografia, daqui a pouco, vai existir a engenharia da Pata da Lagosta”.
Neste momento, todo o plenário parou pra prestar atenção e fazer seus devidos julgamentos. Enquanto uns achavam graça, muitos achavam um absurdo o que ela tinha dito. Em especial, claro, nós da engenharia de pesca. Tanto que não conseguimos nos conter.
Corri para a tribuna, ocupei o microfone e sem temer o volume da minha voz, comecei:
– Gostaria de solicitar da senhora arquiteta, como de todos os presentes, mais respeito a nossa profissão. Não é porque somos minoritários no Sistema que vamos aceitar tamanha falta de bom senso.
Precisei dar uma aula sobre o crustáceo decápode citado.
– A lagosta é um crustáceo decápode, macruros e palinurídeos, cuja pesca está em declínio. Inclusive, a pesca não é somente da lagosta, também pescamos arabaiana, pirarucu, camarão, temos a atividades extrativa, a atividade de cultivo de peixes, de crustáceo e ainda os moluscos de indústria e o beneficiamento do pescado…
A plateia não se conteve. Lembro que todos gritavam e aplaudiam. Em um momento muito marcante, em que a engenharia de pesca foi ouvida e respeitada por todos. Não sei, até hoje, se por graça ou por apoiar mesmo nossa categoria. Mas, de uma coisa eu sei o objetivo principal era fomentar, ainda mais, a briga entre Arquitetura e Engenharia.
Terminei meu discurso falando da importância dos colegas oceanógrafos entrarem no Sistema. Fato que não aconteceu.
Foi a partir deste causo, que os engenheiros de pesca começaram a ter mais respeito no sistema Confea/Crea, identificando-se como grupo minoritário de luta e determinação pelas causas do setor social e produtivo com vistas no futuro. Hoje, lutamos para tornar o Brasil o país do pescado.
Rodolfo Rangel é engenheiro de pesca e, na ocasião, presidente da Federação Nacional dos Engenheiros de Pesca.