Com o tema “A quem interessa a destruição do patrimônio histórico?”, o programa Fora da Curva convidou a engenheira e diretora da Mulher do Senge-PE Eloisa Moraes e o arquiteto Rodrigo Cantarelli para debater a respeito da conservação e manutenção do patrimônio histórico recifense, na última terça-feira (29).
O Recife é uma cidade rica em patrimônio histórico, e no bairro da Boa Vista, por exemplo, existe um trecho de aproximadamente 430 mil metros quadrados que é considerado, desde 2014, uma Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural (ZEPH), protegida por lei contra a especulação imobiliária. Essa área abrange ruas como Rua Velha, Rua Matriz, Rua da Alegria, Rua Barão de São Borja e a Rua da Glória, região emblemática do Recife, que possuem edificações do século XIX.
O Recife é pioneiro na criação da lei municipal que preserva o patrimônio. “A legislação urbana do Recife era de vanguarda, era avançada. Infelizmente, houve um retrocesso ao longo dos anos e diversos avanços foram suprimidos, em nome de uma maior ocupação dos terrenos”, afirma Eloisa Moraes.
De acordo com a engenheira, mesmo protegida por lei, a falta de políticas de preservação e de estímulo à recuperação da área faz com que as edificações estejam em situação de risco. São sobrados descaracterizados, abandonados, se transformando em ferros-velhos, cobertos de rachaduras, podendo desabar a qualquer momento.
Órgãos como o IPHAN e o departamento de preservação do sítio histórico da Prefeitura do Recife são responsáveis por garantir a não destruição destas construções. Porém, a manutenção dos prédios de propriedade privada é de responsabilidade do proprietário, o que dificulta sua efetivação. Para o arquiteto Rodrigo Cantarelli o problema passa pelo planejamento da própria cidade. “Temos a falta de incentivos tanto para se ocupar essas edificações históricas, quanto para manutenção, já que não são edifícios com uma manutenção barata”, comenta.
“Por que o mercado vai ter interesse em investir em edifícios que têm um custo alto e não tem o lucro tão grande, se ele pode construir no resto da cidade que tem uma legislação flexível?”, indagou o arquiteto.
Para Eloisa Moraes, um exemplo a ser seguido de restauração e manutenção de casarões históricos é o da Academia Pernambucana de Letras. “A doutora Fátima Quintas, na então gestão como presidente, foi atrás, viu que o telhado estava desmoronando, ficou muito preocupada e, com a sua sensibilidade histórica de escritora, conseguiu fazer o projeto muito bem feito de restauração. Foi atrás, conseguiu fomentar os recursos e hoje a coberta e as faixadas foram restauradas. O patrimônio está, novamente, entregue à população”, finalizou.