#SengeMemórias

 

O Sindicato dos Engenheiros de Pernambuco surgiu em 1935, 14 de fevereiro, numa noite de quinta-feira. Surgiu a partir de várias demandas dos engenheiros, entre as quais se destacava o combate ao emprego dos estrangeiros, que ocupavam as vagas dos brasileiros, a regulamentação da profissão e aos baixos salários pagos pelas empresas, que eram poucas. Foi fundado na mesma época que os demais, como os de São Paulo e Rio de Janeiro. O Estado brasileiro vinha, desde a fundação da república, passando por golpes e turbulências políticas, e a década de 1930 não foi diferente, com os movimentos sociais e operários disputando com as elites que dominavam o país as alternativas políticas e ideológicas que estavam em disputa no mundo e no Brasil.
O reconhecimento pelo Ministério do Trabalho, recém-criado por Getúlio Vargas, saiu em 20 de março e a reunião para estudar e aprovar o Regulamento Interno foi feita quatro dias depois. Getúlio Vargas era o presidente de um governo constitucionalista, que sucedeu ao provisório e era fruto de um golpe de estado, que levou ao poder parte do ideário fascista e corporativista. No governo provisório foi criado o Ministério do Trabalho, que é a base de todo o arcabouço estrutural do sindicalismo controlado pelo Estado, implantado e em vigor até hoje no Brasil. O golpe fora apoiado em Pernambuco por Carlos de Lima Cavalcanti, que recebeu como “prêmio” a interventoria do Estado das mãos de Getúlio Vargas. O interventor, nos primeiros anos de governo, teve uma atuação política controversa, que de um lado fazia a defesa da sindicalização da classe operária e incentivava as manifestações das forças populares e de outro combatia as propostas de reconstitucionalização do país.
Desde então, o sindicato seguiu – como orientava o manual corporativista, que conquistou seus fundadores – sua trajetória de alternância entre a obediência ao estatuto de fundação, que prescrevia a colaboração com o Estado no estudo e solução dos problemas que direta e indiretamente se relacionasse com a profissão, e a resistência, na defesa do estado democrático de direito. Getúlio Vargas administrava o país sendo atacado pelas duas grandes forças políticas de então. Os integralistas desejosos de um governo centralizado e sem liberdades constitucionais e a Aliança Libertadora Nacional, clamando por reforma agrária, revolução por meio da luta de classes e combate ao imperialismo. As lutas e o oportunismo de Getúlio Vargas levaram a mais um golpe, que resultou na criação do Estado Novo.
Atravessamos, nesses 82 anos, muitos períodos de golpe e truculência, tanto políticos quanto econômicos. Foi no longo período do Estado Novo que chegamos aos 200 sócios, quando as bases da economia industrial foram implantadas, e em Pernambuco o interventor federal de plantão era um dos mais influentes conselheiros do presidente, o professor Agamenon Magalhães. Somente em 1950, quando o país ainda andava de trem e a indústria automobilística iniciava sua instalação, com o número de registro 209, é que conseguimos a primeira sócia do sindicato, mas sobre isso falaremos na próxima edição…

Por Roberto Freire, engenheiro eletricista e diretor de divulgação e cultura do Senge-PE