Nosso primeiro Causos e Contos é contado pelo engenheiro eletricista e diretor do Senge-PE Carlão Aguiar. Ele foi diretor de manutenção urbana da Emlurb, nos anos de 2001 a 2003, diretoria responsável, entre outros serviços, pela administração dos cemitérios públicos.
“E foi aí que a história aconteceu…
Eu dedicava toda segunda-feira a receber o público em geral, e, numa bela segunda-feira, quando chego na Emlurb, tem uma senhora sentada me esperando. Dona Isaura* foi a primeira a ser atendida e, na verdade, foi a primeira e a última, porque não me deixou atender mais ninguém. O motivo foi exatamente o causo que eu vou contar pra vocês agora…
Dona Isaura chegou na minha sala, e disse logo “você é o único homem que pode me ajudar”. Assustado e curioso, sentei pra ouvir o que ela tinha a falar, e lá veio a história dela. A filha dela havia ido passar o final de semana na casa de uma grande amiga, ao voltar no domingo à noite, sentiu falta de uma calça. E não era qualquer calça, era a sua preferida, que ela tinha comprado recentemente. Muito atarefada, a filha de Dona Isaura, trabalhava muito e não teve tempo de ir buscar, só quase um mês depois que ela conseguiu voltar à casa da amiga. Ao chegar lá, a amiga logo explicou “você não sabe o que aconteceu… minha mãe teve um mal súbito e faleceu. Na hora de enterrá-la, enterramos ela com sua calça, e agora sua calça tá enterrada com minha mãe, não tem mais jeito”. A menina voltou pra casa, chorando e muito preocupada – com a calça, não com a mãe da amiga, pra deixar bem claro – e foi contar a mãe. Não tinha mais o que fazer.
A mãe, muito ligada nas questões da cidade, só esperou o dia amanhecer e foi na Emlurb atrás do “único homem que poderia ajuda-la”: eu. Ela queria que eu resolvesse. Quando eu disse que não poderia fazer nada, veio logo dizendo: “mas, o senhor não é quem cuida dos cemitérios, não é o responsável? Então, eu quero que o senhor desenterre a mulher, pra tirar a calça da minha filha”. Sem acreditar, procurei ser o mais sério que podia e respondi: “Minha senhora, eu sou administrador da Emlurb, e esse negócio que a senhora tá falando se chama exumação de corpo, só pode ser feito com autorização judicial”.
Rapaz…. Isso rendeu até meio dia, ela começou a chorar, ficou nervosa, minha secretária trazia água gelada, cafezinho, fez até um chá pra ela se acalmar, e ela chorando, chorando, copiosamente mesmo, não tinha condições de atender mais ninguém. Eu sei que mobilizou a Emlurb inteira, várias pessoas entraram pra consolar Dona Isaura e nada. Cada vez que explicava, Dona Isaura chorava mais, se desesperava mais. Só depois de muita conversa, ela aceitou voltar pra casa sem a calça, mais ou menos consolada, mas não saiu satisfeita não, disse até que eu tava com má vontade com ela, mas se acalmou um pouco quando eu orientei: “vá no juiz, com a autorização dele, a gente faz a exumação na mesma hora”.
*Dona Isaura é um nome fictícioNosso primeiro Causos e Contos é contado pelo engenheiro eletricista e diretor do Senge-PE Carlão Aguiar. Ele foi diretor de manutenção urbana da Emlurb, nos anos de 2001 a 2003, diretoria responsável, entre outros serviços, pela administração dos cemitérios públicos.
“E foi aí que a história aconteceu…
Eu dedicava toda segunda-feira a receber o público em geral, e, numa bela segunda-feira, quando chego na Emlurb, tem uma senhora sentada me esperando. Dona Isaura* foi a primeira a ser atendida e, na verdade, foi a primeira e a última, porque não me deixou atender mais ninguém. O motivo foi exatamente o causo que eu vou contar pra vocês agora…
Dona Isaura chegou na minha sala, e disse logo “você é o único homem que pode me ajudar”. Assustado e curioso, sentei pra ouvir o que ela tinha a falar, e lá veio a história dela. A filha dela havia ido passar o final de semana na casa de uma grande amiga, ao voltar no domingo à noite, sentiu falta de uma calça. E não era qualquer calça, era a sua preferida, que ela tinha comprado recentemente. Muito atarefada, a filha de Dona Isaura, trabalhava muito e não teve tempo de ir buscar, só quase um mês depois que ela conseguiu voltar à casa da amiga. Ao chegar lá, a amiga logo explicou “você não sabe o que aconteceu… minha mãe teve um mal súbito e faleceu. Na hora de enterrá-la, enterramos ela com sua calça, e agora sua calça tá enterrada com minha mãe, não tem mais jeito”. A menina voltou pra casa, chorando e muito preocupada – com a calça, não com a mãe da amiga, pra deixar bem claro – e foi contar a mãe. Não tinha mais o que fazer.
A mãe, muito ligada nas questões da cidade, só esperou o dia amanhecer e foi na Emlurb atrás do “único homem que poderia ajuda-la”: eu. Ela queria que eu resolvesse. Quando eu disse que não poderia fazer nada, veio logo dizendo: “mas, o senhor não é quem cuida dos cemitérios, não é o responsável? Então, eu quero que o senhor desenterre a mulher, pra tirar a calça da minha filha”. Sem acreditar, procurei ser o mais sério que podia e respondi: “Minha senhora, eu sou administrador da Emlurb, e esse negócio que a senhora tá falando se chama exumação de corpo, só pode ser feito com autorização judicial”.
Rapaz…. Isso rendeu até meio dia, ela começou a chorar, ficou nervosa, minha secretária trazia água gelada, cafezinho, fez até um chá pra ela se acalmar, e ela chorando, chorando, copiosamente mesmo, não tinha condições de atender mais ninguém. Eu sei que mobilizou a Emlurb inteira, várias pessoas entraram pra consolar Dona Isaura e nada. Cada vez que explicava, Dona Isaura chorava mais, se desesperava mais. Só depois de muita conversa, ela aceitou voltar pra casa sem a calça, mais ou menos consolada, mas não saiu satisfeita não, disse até que eu tava com má vontade com ela, mas se acalmou um pouco quando eu orientei: “vá no juiz, com a autorização dele, a gente faz a exumação na mesma hora”.
*Dona Isaura é um nome fictício